quinta-feira, 18 de julho de 2013

Como a Ignorância Nos Pode Salvar # How Ignorance Can Save Us


No livro Milagre nos Andes, encontramos um relato emocionante de como sobreviveram alguns dos jovens que estavam no fatídico voo que cruzava a Cordilheira dos Andes em 1972, e que caiu matando a maioria dos passageiros. Depois de muito sofrimento físico e emocional, apenas 16 dos 45 ocupantes se salvaram. Nando Parrado era um deles, e conta a seguir como a “ignorância” o salvou.

“Sabíamos que fendas profundas escondiam-se sob a fina camada de neve congelada, e que pedras do tamanho de aparelhos de televisão caíam rolando dos afloramentos despedaçados no alto da montanha. Mas não tínhamos a menor noção das técnicas e estratégias do alpinismo, e o que não sabíamos já bastava para nos matar.
Não sabíamos, por exemplo, que o altímetro do Fairchild estava errado; o local da queda não estava a 2 mil metros de altitude e sim aproximadamente 3.500 metros. Também não sabíamos que a montanha que estávamos prestes a enfrentar era uma das mais altas dos Andes, chegando a cerca de 5 mil metros de altitude, com encostas tão íngremes e árduas que seriam um desafio mesmo para uma equipa de montanhistas experientes. Na verdade, alpinistas experientes não chegariam nem perto daquela montanha sem um arsenal de equipamentos especializados, incluindo pitões de aço, parafusos, cordas de segurança e outros instrumentos indispensáveis, feitos para ancorá-los com segurança nas encostas. Eles carregariam picaretas, tendas impermeáveis e botas térmicas adaptadas com crampons, pontas de metal que fornecem a tracção necessária nas inclinações mais íngremes e incrustadas do gelo. Estariam também na sua melhor condição física, é claro, e escalariam na hora em que escolhessem, elaborando cuidadosamente a rota mais segura até o topo. Nós os três estávamos a escalar com roupas comuns, a transportar apenas as ferramentas toscas que pudemos inventar com os materiais resgatados do avião. O nosso corpo já estava devastado por meses de cansaço, fome e exposição ao frio, e a nossa vida até então não nos preparara nem um pouco para esta tarefa. O Uruguai é um país quente e de baixa altitude. Nenhum de nós havia visto uma montanha de verdade. Antes da queda, Roberto e Tintin nem nunca tinham visto antes neve. Se soubéssemos alguma coisa de alpinismo, teríamos percebido que estávamos perdidos. Por sorte, não sabíamos nada, e a ignorância nos deu a nossa única oportunidade.”

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In the book Miracle in the Andes, we find a gripping account of how some young people who were on the fateful flight that crossed the Andes in 1972 crashed killing most of the passengers survived. After a lot of physical and emotional suffering, only 16 of the 45 occupants were saved. Nando Parrado was one of them, and he recalls how "ignorance" saved him.

“We knew that deep crevices hid under the thin layer of frozen snow, and rocks the size of television sets fell rolling off shattered outcrops on the mountain. But we had no idea of ​​the techniques and strategies of mountaineering, and what we did not know was enough to kill us.
We did not know, for example, that the Fairchild’s altimeter was wrong; the crash site was not at the altitude of 2000 meters but approximately 3.500 meters. Nor did we know that the mountain we were about to face was one of the highest in the Andes, reaching the altitude of about 5000 meters, with slopes so steep and arduous that they would be a challenge even for a team of experienced mountaineers. In fact, experienced alpinists would not come anywhere near that mountain without an arsenal of specialized equipment, including steel studs, screws, safety ropes and other essential tools, made to anchor them safely on the slopes. They would carry picks, tarpaulins and adapted thermal boots with crampons, metal spikes that provide the required traction on steep slopes and encrusted ice. They would also be in their best physical condition, of course, and they would climb at the time they carefully chose designing the safest route to the top. The three of us were climbing in ordinary clothes, carrying only the rough tools that we invented with the materials recovered from the plane. Our body was already ravaged by months of exhaustion, starvation and exposure to cold, and our life until then never had prepared us even a little for this task. Uruguay is a hot country and it has a low altitude. None of us had seen truly a mountain. Before the crash, Roberto and Tintin had never even seen snow. If we knew anything about climbing, we would have realized that we were lost. Luckily, we knew nothing, and ignorance gave us our only chance.”

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